A eleição de Trump e a nova ordem mundial

Estamos numa fase política e social de derrubada de mitos.

A Ucrânia tem sido cenário de um conflito entre as forças armadas ucranianas e as forças separatistas pró-russas. Putin, que já gosta de uma treta, ainda botou mais fogo nos separatistas, dizendo que a Criméia é um território historicamente russo, mas que foi equivocadamente anexado à Ucrânia na dissolução da URSS. A invasão russa já vai completar dois anos e as autoridades ucranianas já alertaram que há rumores sobre uma invasão russa em larga escala: Ou seja, você anexa uma Criméia aqui, uma outra península acolá, um territoriozinho ali no canto… Parece familiar? Lembra da Tchecoslováquia tomada pela Alemanha nazista? Pois é.

Aí vem o caso da Turquia. A Turquia tinha um presidente que, como tantos outros, eliminada a oposição com expurgos e sumiços injustificados. Eis que as Forças Armadas planejam um golpe, para tirar o Presidente e assumir o poder. O que o Presidente faz? Convoca a população a lutar contra o golpe. E o que a população faz? Apóia o Presidente e promove uma resistência ao golpe das Forças Armadas. O golpe, claro, foi por água abaixo, o Presidente saiu mais forte e a situação foi daí pra pior: As Forças Armadas, a imprensa e os oposicionistas civis foram duramente esmagados. Assustadoramente, a população, majoritariamente islâmica, é favorável ao Presidente, que tem sobrepujado a lei de Alá à lei dos homens. É uma ditadura com apoio popular, vejam só. E cai o segundo mito: O mito da democracia européia. Enquanto os olhos do resto do mundo continuarem fechados, justificados pelo “apoio popular”, o Presidente vai continuar a reprimir duramente opositores, imprensa, militares e quem mais vier pela frente.

Vamos ao Brexit. Essa não precisa explicar muito, né? Esse sentimento ultranacionalista que tomou de assalto o Reino Unido e nos surpreendeu com sua saída do bloco da União Européia. A grande justificativa, além da questão econômica (o Reino Unido jamais adotou o euro como moeda, por exemplo), foi baseada na questão imigratória, principalmente no controle das fronteiras (olha o ultranacionalismo!). E caiu por terra o terceiro mito: O da indissolubilidade da União Européia e da abertura de fronteiras à comunidade daquele continente.

Eis que, numa junção de todos esses mitos, Trump acaba de ser eleito Presidentes dos Estados Unidos. Os Estados Unidos estão tomados por um espírito conservador e ultranacionalista que vem trazido pela Europa. Deve ser destacado que, com a eleição de Trump, os Estados Unidos se posicionam a favor da globalização (que é a integração COMERCIAL de cidadãos de diferentes países) e contra o globalismo (que é a integração SOCIAL de cidadãos de diferentes países). O fato é que, de repente, os americanos passaram a acreditar que “ser americano” é ser depositário de um legado civilizacional moldado ao longo de séculos. Acreditam que a união entre povos deve ser espontânea e não obrigatória diante de uma ordem mundial favorável à imigrações, sejam elas de que tipo forem. Os americanos deixaram de vestir a capa da tolerância (que, na verdade, nunca foi o forte deles) e passaram a criticar abertamente esse “universalismo cultural”. A eleição de Trump faz cair um novo mito: Aquela história de que os Estados Unidos são uma nação multicultural, sempre aberta às novas microsociedades, cada qual com suas características, seu idioma, suas regras, suas crenças.

A vitória de Trump escancara esse sentimento ultranacionalista: Você pode ser bem vindo, desde que se adapte à MINHA cultura, ao MEU idioma, à MINHA lei, às MINHAS crenças. E essa eleição, aliada às questões européias (sem esquecer a provável ascensão de Le Pen ao poder na França), está formando uma nova mentalidade nos países de primeiro mundo. A vitória de Trump coloca em questão a ordem mundial vigente e também o papel dos Estados Unidos no mundo. O que isso significa, parceiro, ainda é impossível prever. Aguardemos os próximos capítulos